quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Depoimentos dos Pioneiros e moradores de Alto Paraíso Goiás

Alto Paraíso de Goiás (GO) - Aos 66 anos, Waldomiro da Silva Filho viu Alto Paraíso de Goiás ser emancipado em 1953, assistiu à invasão de turistas em busca das cachoeiras da Chapada dos Veadeiros e ouviu muitas das histórias de misticismo, que envolvem o lugar. Os relatos dele e de outros pioneiros do município farão parte do acervo do futuro Museu da Memória de Alto Paraíso.




“Eu nasci na roça e fui para a cidade aos 10 anos. Vi a cidade se desenvolver muito lentamente. Inclusive na época da emancipação tinha só 48 casas, com muitos ranchos de palha – até hoje existe a Rua da Palha. Dormíamos com as casas abertas, sem sentir medo nem susto. Hoje, temos que colocar tudo quanto é proteção e ainda dormimos assustados. Em Alto Paraíso, o desenvolvimento nos trouxe esse medo.” Conta seu Valdomiro, embora o município tenha um aspecto pacato de cidade do interior.

Viúvo, pai de dois homens e duas mulheres, todos adultos, e avô de 11 crianças, Waldomiro é um verdadeiro nativo da região. Os avós dele nasceram aqui, assim como os pais, os filhos e os netos – cinco gerações da região, que se transformou em Alto Paraíso de Goiás. Sobre o museu, Waldomiro disse que o considera importante para a cidade, desde que sirva para melhorar o respeito aos nativos.
“Eu só não acho importante quando chega alguém que queira fazer algo pisando por cima dos nativos”, opina, comentando sobre os valores dos mais antigos. “Existiam três palavras muito importantes na vida de um ser humano: amor, respeito e receio. Se eu tenho amor por vocês, tenho que respeitar o que é de vocês e ter o receio de lançar a mão querendo colher para mim. Hoje essas três palavras são usadas por pouca gente”, afirma.

Alto Paraíso é conhecida pelos turistas como um lugar místico, onde se acredita que atrai discos voadores, devido aos cristais, e extraterrestres. O comerciante contou que não era assim antigamente, mas salientou que o céu da cidade sempre escondeu alguns mistérios.

“Muita gente fala que tem aqui, nessa serra da Baleia, uma cidade dos ETs. São meus vizinhos e não me aparecem! Agora, as luzes no espaço... Isso eu vejo sempre. Desde que vim para Alto Paraíso, eu comecei a ver. Em todas as regiões mais altas e que contém mais minério, são as que eles mais aparecem. Se são os ETs, eles gostam muito de cristal...”, brinca.

" Dentre os que chegaram aqui, os migrantes, os mateiros, uns batedores nativos que já eram guias, eu tive a feliz oportunidade de ser o primeiro, um dos primeiros a receber visitantes, conduzir os visitantes. Em pesquisa, em passeio. Até mesmo antes do surgimento do turismo. As primeiras visitas feitas no parque, quando as pessoas acampavam no interior do Parque Nacional, acarretaram lixo, degradação da natureza, corte de madeira, fogo no Parque. O Parque foi fechado por um ano. Resolveram criar uma equipe de guias patrocinado pelo IBAMA e pela Funatura. Isso foi em 91. No término do curso já foi formada a Associação. Naquela época nós éramos por volta de 30 e poucos guias. A Associação surgiu de uma necessidade de ordenamento, mas a meu ver, ela surgiu no sentido de estabelecer uma relação de integração entre a unidade de conservação, Parque Nacional e a Vila de São Jorge principalmente." - Lula - historiador e guia





“Olha aqui no Moinho em primeiro lugar eu planto de tudo um pouco, tanto ervas, faço horta, planto arroz, arroz não, planto feijão, milho, banana, cana, de tudo eu planto, só não planto aqui arroz e trigo.” - Dona Flor.




“Amor Moinho já ao longo desses quatro anos definiu uma porção de coisas, a primeira coisa que a gente definiu foi a casa de farinha e o engenho de cana, porque é coisa que o pessoal já faz já sabe fazer e faz bem, então a Dona Flor por exemplo se ela ralar, ela já ralou em agora ela rala no ralo né, mas antigamente ela ralava em tronco de angico, imagina você ralar mandioca num tronco de uma árvore, de um angico, então o tempo que ela tinha para fazer isso ela fazia a farinha da casa dela, se a gente tem um motorzinho ela vai fazer dez vezes mais farinha no mesmo tempo e vai ter um excedente para um retorno financeiro.” - Jurema de Medeiros.


Dona Flor e outros pequenos produtores vendem seus produtos numa feira em Alto Paraíso todo sábado de manhã.

“Em primeiro lugar eu respeito muito a natureza, que é o que nós todos devemos fazer respeitar a natureza, amar a natureza que dela que cria tudo.”



Questionada se achava que estava faltando respeito à natureza, Dona Flor respondeu:)

“Há falta, porque como que queima tudo aí né, eles pões fogo no cerrado, o cerrado é farmácia.” - Dona Flor.





A Fazenda Bom Espero foi fundada por um grupo de esperantistas europeus no começo dos anos 70. Hoje abriga e ensina crianças carentes da Chapada.

“Maria é professora em Alto Paraíso e de manhã ela nos ajuda a cozinhar, ela é ex-aluna, ela é professora tem curso de magistério e nos ajuda porque nós estamos cheios de serviço, não damos conta.” - Úrsula Grattapaglia•.

“Pois é aqui não é um lugar onde os europeus ensinam esperanto ao cabloco goiano, mas aqui é um lugar onde esperantistas participam nos trabalhos básicos da humanidade que é erradicar a violência, o analfabetismo.” - Úrsula Grattapaglia
“E também fazer algo para que esse mundo seja um pouco melhor.”
-
Úrsula Grattapaglia.

A Fazenda Bom Espero foi fundada por um grupo de esperantistas europeus no começo dos anos 70. Hoje abriga e ensina crianças carentes da Chapada.

Filomena(Filó)Professora aposentada

“Em 1953, as dificuldades que existiam em Alto Paraíso eram os meios de transporte, não existia luz elétrica. A vida, em matéria de alimentação, era saudável, tudo era muito puro e em plena fartura.
A educação era muito mais forte, o ensino era rígido, porém de maior qualidade; a didática era transmitida através de objetos concretos, por exemplo, arroz, feijão, sementes de fruta, eram usados na aritmética. Os professores atuais da cidade, não seguem uma didática.”


Nide Santana (Nasceu na região, morava no Sertão e sentiu na pele a realidade de nossa cidade, e hoje é funcionária pública de limpeza em uma escola)

“... a educação era mais rígida que hoje, porém o ensino era de melhor qualidade, hoje em dia piorou muito, apesar de toda tecnologia, antigamente tinha tempo para tudo, hoje em dia é aquela correria lascada. A cidade melhorou muito em matéria de desenvolvimento, porém na área da educação houve uma decadência tremenda.
Na cidade, falta lazer, onde pudesse conversar contar casos antigos. “Acredito que tudo gira em torno da educação, todo desenvolvimento da cidade, depende essencialmente dela, portanto a educação é a base para a formação de um cidadão.”



Referência Bibliográfica:
A Porta de um Alto Paraíso
Ricardo Soares

Alunos:
LET03
Agda Dias Pereira
Fabiane Domingues Mendes
Margareth V.Aguiar
Raquel Sousa
Ivanir Domingues
Sthefania Alves de França

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